quarta-feira, 3 de agosto de 2011

E PORQUE NÃO LEGALIZAR??

Segundo pesquisa, legalização da maconha renderia cerca de R$ 2,2 bilhões à França

De acordo com estudo da Universidade de Sorbonne, medida não aumentaria o consumo

          Caso a França decida legalizar a maconha e impor uma taxa similar à do tabaco sobre seu consumo, o país poderia ganhar cerca de R$ 2,2 bilhões (1 bilhão de euros) por ano, afirma um estudo da Universidade de Sorbonne – uma das instituições mais respeitadas do mundo.
          Além disso, uma medida como essa não provocaria uma alta no consumo da droga, segundo o estudo divulgado nesta terça-feira (2).
          Em entrevista ao jornal francês Le Monde, o autor do estudo, Pierre Kopp, professor de economia em Sorbonne, afirma que o país economizaria algo em torno de R$ 622 milhões (300 milhões de euros) apenas em despesas ligadas às detenções por tráfico.
          O estudo, intitulado "As drogas são benéficas para a França?", comparou o custo da política atual de combate ao tráfico de maconha e os gastos que seriam gerados por uma eventual descriminalização do comércio da droga.
          Para Kopp, a chave está em impor um imposto que regule o preço da substância. O valor não poderia ser baixo a ponto de favorecer seu consumo nem tão alto a ponto de estimular a criação de um mercado negro.
          Segundo o especialista, “um nível adequado [de imposto] permitiria evitar uma alta do consumo e gerar fundos para financiar a prevenção”.
                                           Foto: Universidade de Sorbonne


segunda-feira, 1 de agosto de 2011

A Maconha - Fernando Gabeira

               Em "A Maconha", Fernando Gabeira apresenta os prós e os contras sobre o assunto, com argumentos científicos, estudos sociológicos, causas jurídicas, relatos literários e experiências médicas.
              

Leia um trecho do exemplar. 

              Dizer "maconha" é espalhar um rastro de discórdia. Há quem afirme que ela destrói o cérebro e conduz ao crime. Há quem, como o escritor Carl Sagan, a considere maravilhosa. Há os que duvidam, os que ignoram, os que pesquisam e chegam a resultados frontalmente antagônicos.
              Nos primeiros meses de 2000, cientistas da Califórnia chegaram à conclusão de que maconha dá câncer e cientistas ingleses concluíram que maconha cura câncer.
              Enterrada num velho túmulo chinês, em forma de sementes na tanga dos escravos negros ou de tecido no corpo de uma garota egípcia, a maconha aparece em toda parte, mas ainda assim não há acordo sobre ela. Há quem ache que surgiu há 8 mil anos; a revista espanhola Cañamo garante que foi há 5 mil.         Talvez não seja possível definir precisamente quando a maconha entrou na história da humanidade; mas pode-se acreditar que tenha surgido há muitos séculos, embora reconhecendo que em 3 mil anos de imprecisão fumam-se milhões de baseados.
              Em 525 d.C., as autoridades resolveram fazer grandes fogueiras públicas da maconha no Cairo. Em 1999, autoridades brasileiras queimaram toneladas de maconha diante das câmeras de TV. Isso dá idéia de como é antiga esta ambivalência diante de uma planta: uns querendo destruí-la, outros querendo cultivá-la.      Do ponto de vista da maconha, a humanidade deve parecer muito louca.
              Se a Cannabis sativa fosse uma família, teria dois filhos. São irmãos de sangue, com a diferença de que num deles os exames detectam níveis mais altos de THC --o tetraidrocanabinol. O cânhamo, que entra na produção de 20 mil produtos importantes para a humanidade, tem um nível de THC inferior a 3%. A partir daí, entra em cena sua irmã, a maconha, que produz toneladas de bons e maus sonhos, com um teor de THC em torno de 6%. Na maioria dos países, a plantação de cânhamo e de maconha é igualmente proibida, um irmão pagando pelo outro, o cordeiro pelo lobo.
              Pensar que é ilegal plantar cânhamo nos Estados Unidos e que a Constituição dos Estados Unidos foi escrita em papel de cânhamo ajuda pelo menos a entender as grandes fogueiras que se fazem periodicamente para destruir a canábis. Já foi assim com os livros, com a diferença de que naquela época se queria matar a cultura e na nossa querem matar uma planta --sem perceber que se trata, também, de uma cultura, e não só de uma espécie vegetal que se possa levar à extinção.
             Nem sempre cânhamo e maconha foram proibidos numa mesma época. No princípio do século 20, famílias norte-americanas se dedicavam à cultura do cânhamo; ainda encontramos cortinas de cânhamo no Nordeste brasileiro, e há referência de uma colônia agrícola no Rio do Grande Sul dedicada à sua produção.
             O cânhamo foi pego nessa fábula do lobo e do cordeiro quase no meio do século, a partir da década de 30. Dois fatores econômicos e sociais devem ser levados em conta para essa inflexão histórica. De um lado, a crise econômica; de outro, a presença crescente de imigrantes mexicanos nos EUA, o que ofereceu ao magnata da imprensa William Randolph Hearst a chance de estabelecer uma relação entre os perigos da alteração da consciência e os do excesso de mão-de-obra. Foi ele quem cunhou a palavra marijuana, associando o medo de uma droga ao medo dos imigrantes que cruzavam a fronteira.

Texto e foto retirados de http://www1.folha.uol.com.br/livrariadafolha/952918-em-livro-gabeira-fala-sobre-pros-e-contras-da-maconha.shtml